sábado, 5 de janeiro de 2013

Mensagem recebida do amigo Rodolfo Ori





Eu conheci o Seu Crispim através de uma conversa. Ele não estava presente, apenas suas histórias. A Tina, que faz parte da história do Caminho da Fé desde seu primeiro passo, me conheceu numa manhã fria e preparou meu café. Enquanto eu comia seus bolos deliciosos, ela me falava sobre o Caminho da Fé, sua família, os peregrinos que passaram por lá nesses dez anos de histórias e muito mais. Muitas histórias. E uma história estava começando a chamar a minha atenção. Ela fazia questão de brincar com o jeito todo fora do eixo de Crispim. Mas quem era esse tal de Crispim?

Eu fiz o Caminho da fé em quatorze dias. Três dias a menos que meu planejamento. Fui andando, sempre andando. Crispim fez o Caminho em vinte e dois dias se não me engano. Dez dias a mais que o planejado. Ele fez de bicicleta. E essa história de ter um camarada fazendo a trilha de bicicleta e apenas a um dia na sua frente me intrigava. Depois que a Tina me contou sobre o Crispim e suas peculiaridades no meu terceiro dia de caminhada, todos os dias dali pra frente eu conhecia pessoas que conheceram o Crispim. E como elas conheceram Seu Crispim. Todas falavam como se ele fosse uma lenda. Quem é essa camarada? Que figura?

No meu décimo primeiro dia, eu deixei de ser um peregrino solitário e passei a andar com mais três amigos de fé. Detalhe: eles também vieram escutando os “causos” de Crispim. Meu Deus, quem é Crispim? Não é lenda, ele existe mesmo?

Final do meu décimo segundo dia, nosso grupo recém formado chegava a Campos do Jordão. Fizemos a caminhada na baixa temporada então, a doce Bianca, que gerência o Refúgio dos Peregrinos, nos informou que poderíamos escolher onde dormir e que tinha apenas um único peregrino que chegara de manhã, de bicicleta. Nós nos entreolhamos e eu fiz a pergunta: Esse peregrino é o Crispim? Ela confirmou e nós festejamos como se tivéssemos chegado a Aparecida. Ele não era mito. Ele existia e estava lá.

Ficamos esperando Seu Crispim chegar ao Refúgio depois de seu tour pela cidade. Já estava tarde e estávamos com sono, mas nos mantivemos firme até a hora do encontro. Ele apareceu, disse um “oi” tímido e se assustou como nossa vibração. Nós levantamos para abraçá-lo. Crispim olhava confuso. Também, não era pra menos. Ninguém poderia imaginar que sua simples presença e passagem poderiam gerar tantas histórias. Esse é Crispim no Caminho da Fé.

Ele largou sua bicicleta lá em Campos do Jordão e nos acompanhou a pé pelos dois dias que restavam. Ele sofreu muito, dividimos nossas dores musculares. Mesmo nos arrastando, chegamos lá na Basílica em Aparecida. Eu cumpri minha missão junto com a lenda do Caminho da Fé.

Valeu Crispim, meu amigo de fé.

Rodolfo Ori, peregrino que começou essa idéia de faz o Caminho da Fé em 2007, cinco anos antes. Motivo? Apenas relembrar que somos parte de um todo muito maior, mais vasto, mais tranqüilo, mais bonito e todo conectado com a essência da vida.


Rodolfo Ori

Pindamonhangaba - Aparecida

Imagem de Nossa Senhora Aparecida. Foto enviada pelo amigo Rodolfo


O grande dia havia chegado! Fui dormir pensando que abandonar a viagem àquela altura seria mais doloroso que a própria dor que me paralisava a perna. Fechei os olhos. Fiquei em silêncio por alguns instantes. Pedi à Nossa Senhora que me desse forças para continuar... Acordei bem melhor, mas ainda sentia os efeitos do dia anterior. Agora só faltavam 30Km para o fim da viagem. Mesmo com muito receio de não aguentar o percurso, decidi seguir junto com meus amigos. Eles jamais me deixariam só...isso me tranquilizava. Com o frescor da manhã e o clima ameno, os 15 Kms iniciais foram relativamente tranquilo. Durante todo esse tempo eu vim conversando com o Rodolfo. Falamos de tudo um pouco. Família, emprego, hobbys, futebol, viagens e diversos outros assuntos. Eu me senti mais forte. Tinha um companheiro que estava andando do meu lado, no mesmo ritmo...e me apoiando psicologicamente o tempo todo. Na minha mente eu havia dividido esse último dia da caminhada em duas etapas. Os primeiros 15Km e os 15Km finais. Se conseguisse completar a primeira metade, iria até o fim. Acontecesse o que acontecesse.

Quando chegamos no Km 17 a resistência física já não era mais a mesma e comecei a sentir a lesão na panturilha. As bolhas não me incomodavam. Acho que foram só duas, uma em cada pé. O problema maior era a dor muscular. A partir desse instante comecei a ser testado. O esforço físico, a dor, a ansiedade de chegar, a fé e a superação se misturavam num turbilhão de pensamentos descoordenados. Me perguntei inúmeras vezes: "É possível chegar?" Fraquejei durante várias vezes. A razão me dizia que eu estava fazendo uma coisa insana. Eu andei bem, mais de 500Km e por quê me sujeitei aquilo na reta final, faltando apenas 72Km? Eu podia ter esperado o conserto da minha bike e ter seguido no dia seguinte...Perguntas, questionamentos que me atormentavam a cada quilômetro vencido. Aquela altura já havia ultrapassado a metade do percurso, desistir ou voltar era impensável. As dores continuavam...Eu evitava a todo custo as paradas para descanso, era nesse momento que os músculos esfriavam e a perna travava como no dia anterior. Fui seguindo num ritmo lento e regular (já fazia algum tempo que andava a metade da velocidade dos meus companheiros). Eu já não desejava saber o quanto faltava para chegar em Aparecida, desviava os olhos quando aparecia uma placa de sinalização. Era uma luta intensa do físico contra o psicológico.

Foi quando ao chegar no fim da estrada de Pinda, ao virarmos obrigatoriamente à esquerda (acesso para o viaduto sobre a linha do trem) que senti medo...mas medo de verdade!!! De não mais continuar andando...A perna esquerda não obedecia aos comandos enviados pelo cérebro. Adormecera. Eu apertava, dava beliscões e não sentia nada, apenas um leve formigamento. Fiquei desesperado!!! Os meus amigos Rodolfo e Rodrigo me ofereceram o cajado e me ensinaram a como utilizá-lo. Fui caminhando e apoiando todo o peso do corpo sobre a perna direita, que ainda estava boa. Nesse momento fui informado que ainda faltavam 5Km. Andar tudo isso naquelas condições parecia impossível. O sol do meio dia castigava, e para piorar não ventava. Quando passamos em frente a pousada Jovimar, ninguém teve coragem de parar para pegar o carimbo. Todos estavam exaustos e ansiosos para a chegada na basílica. Mais alguns metros adiante já era possível ver o movimento de pessoas e veículos. Os transeuntes nos incentivavam dizendo: "Força, coragem...falta pouco".

Percebendo a minha situação crítica os meus companheiros começaram a contar piadas e usaram toda a criatividade para me fazer rir. Talvez, quisessem tirar o foco da dor que já estava impregnada na minha mente. Eu ria das piadas e da minha própria desgraça. Um pouco a frente apareceu uma placa: 3KM. Nesse momento firmei meu pensamento em NOSSA SENHORA APARECIDA e pedi que intercedesse por mim e pelos meus companheiros. Um milagre estava prestes a acontecer. As dores cessaram de repente. Eu comecei a andar normalmente sem a ajuda do cajado. Eu fiquei confuso. Só podia ser NSA, ela  havia me ouvido!!! Fiquei incréduto, eu não estava acreditando no que estava acontecendo. Andei firme em direção à basílica. Uma curva aqui, outra curva ali...e quando foi possível ver a cúpula lá no alto, chorei...Chorei que nem menino!!! Muita emoção!!! Enquanto chorava, um filme passava na minha cabeça. Desde a minha saída em 12/08, de São Carlos, passando pelos dias de solidão até Águas da Prata, e o encontro dos amigos Rodolfo, Rodrigo, Marcos e Seu Francisco em Campos do Jordão que agora finalizavam o caminho junto comigo.

Iniciei sozinho, de bicicleta, e com um alforge de 25 Kg...
Terminei o caminho a pé, com 4 amigos e uma mochila levíssima nas costas...
Nada foi programado.
Simplesmente, aconteceu...


Recado 5985
Maria Luiza de Araras/SP


Crispim

Parabens ! Eu estava aguardando seu relato final, pois tinha certeza do seu sucesso!
Que Nossa Mãe proteja vc e todos os peregrinos !
Abraços !



Recado 5986
Wagner de Ribeirão Preto/SP

Grande e gigante Crispim!Foi um prazer compartilhar de seus recados nesse mural ao longo de sua caminhada. Eu sabia que qdo vc avistasse a Basílica se entregaria as lágrimas, é impossível continuar impávido. Aguardarei ancioso pelas fotos e vídeos. Saio na segunda quinzena de novembro, a pé. Desde já conto com suas orações. Forte abraço!

Wagner



Recado 6001
Igor Magrini de Santa Bárbara D'Oeste

Saudações. O Crispin fez um pouco de suspense, mas relatou a última página de sua vitoriosa caminhada. Que Deus o abençoe e a todos que trilham e mantêm o CF. Ao agora peregrino Crispin, não demore a postar seu blog, tenho certeza que como eu, muitos estão anciosos para ver as fotos. Ano que vem farei pela 3ª vez o caminho, porém antes, vou fazer os ramais por etapada, assim, poderei conhecer cada metro e também poderei auxiliar os futuros peregrinos. Abs.

Igor



Fotos




Rodolfo Ori, o meu grande companheiro na última etapa








 
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