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Avistei um lobo guará idêntico a esse cruzando a estrada após a D.Inês |
Acordei lá pelas 05:00 h e como de costume tomei um banho para despertar. Uma das coisas que deixava o Pedro irritado era o meu banho matinal. Ele jurava não entender porque que alguém que tomou banho à noite e logo foi dormir tinha que tomar outro banho pela manhã. "O cabra ainda tá limpinho de manhã" dizia ele. Aí eu tinha que explicar que não era pelo fato da pessoa estar suja, o banho matinal meio frio tinha o poder de despertar e dar um novo ânimo para a longa jornada diária. E naquele momento pude perceber o quanto era bom se arrumar sem ter ninguém pressionando. Tomei café com a Dona Inês e aproveitei para levar os docinhos de leite e a broa na folha de bananeira. Por onde eu passava ia enchendo o alforge de coisas. O Seu Zé já estava lá no alto da estrada com a picareta na mão sempre acompanhado do seu fiel companheiro Pelé.
Me despedi da Dona Inês e fui embora. O que vinha pela frente não era muito animador. Pelo menos era o que todo mundo falava. Eu preferi nem subir na bike, fui andando e contemplando aquela vista maravilhosa. Um pouco mais a frente encontrei com Seu Zé. Ele estava abrindo um caminho novo. Eu nem acreditei que fazia aquilo com uma simples picareta. Esse povo da roça tem muita força de vontade e não tem medo de trabalho. Lhe dei um abraço e agradeci pela hospitalidade. Antes de prosseguir tirei uma foto dos dois e ainda dei um abraço no Pelé. O Seu Zé achou a cena meio estranha mas apenas sorriu e acenou com a mão. Cruzei algumas porteiras e no ponto mais alto da estrada parei para apreciar a vista. Só quem subiu a estrada da Dona Inês sabe o que eu estou falando. Lá de cima a visão é privilegiada. Ao longe avistei um pequeno aglomerado de casas de tamanho diminuto, pareciam até miniaturas. Era a cidade de Luminosa, cercada de montanhas. Também era possível ver o desenho da estrada que havia percorrido, igual um risco feito no papel. Ainda observei as bananeiras do sítio da Dona Inês e a enorme formação rochosa atrás da propriedade. Sem dúvida nenhuma, um dos lugares mais lindos do Caminho da Fé.
Guardei a máquina fotográfica, peguei a bike e fui andando morro acima. Se não me engano seriam mais 16 Km de subida. A partir daquele ponto estava para acontecer a cena mais emocionante de toda a viagem. Eu seguia tranquilo pela estrada passando perto de um bambuzal. Estava tranquilo e com a mente vagando em pensamentos dispersos. De repente, vi alguma coisa cruzando a estrada. Parecia um cachorro Chow Chow, aquele da língua roxa. Mas não podia ser, era muito magro e com patas compridas. Olhei mais uma vez, agora com toda a atenção do mundo e não tive dúvidas. Era um lobo guará. Tinha mais ou menos 1,20m com pelagem marrom avermelhada no dorso, as patas eram compridas e de cor preta. Embora estivesse com a máquina no pulso não tive tempo para fotografar. A imagem acima que ilustra o post é apenas uma referência ao animal e foi retirada da internet. Esse tipo lobo ao contrário de outras espécies não forma alcatéias, preferem a vida solitária. Formam o casal apenas nas épocas de acasalamento. Também não tem como hábito atacar seres humanos e procuram se alimentar de pequenos roedores, aves e frutos silvestres. Se eu tivesse pesquisado essas informações com antecedência talvez não teria ficado com tanto receio. Na noite anterior, o Seu Zé já havia me alertado que haviam lobos na região. Ele mesmo já tinha visto alguns, mas a uma distância bem longa.
Segui pela estrada com um olho a frente e outro atrás. Qualquer barulho diferente eu já ficava em alerta. Os piores momentos eram quando atravessa as matas fechadas. Eu procurava andar mais rápido nesses pontos e chegar logo numa clareira. Não adianta, quando estamos sozinhos o medo é muito maior do que quando estamos acompanhados. A presença de um companheiro que seja, já traz mais segurança. Em nenhum momento eu havia conseguido subir na bicicleta. Já fazia mais de 3 horas que caminhava e apenas empurrava a minha companheira. Quando cheguei no asfalto pude constatar que estava com problemas no câmbio. Dali até a Barão Montês foi rápido. Finalmente apareceu uma ladeira e já exausto montei na bicicleta e fui embalado até a entrada da pousada Barão Montês.
Recados 5933/34
Dona Inês-Pousada Barão Montês
A Dona Inês e o Seu Zé estavam lá na porteira me esperando. Não só eles como também o Pelé, um pastor preto belga. Fui recebido com um abraço e com uma caneca d'água. D.Inês estava acabando de fazer um doce de leite e meu deu a panela pra raspar. Me esbaldei...A noite depois da janta pude contemplar o céu limpinho forrado de estrelas. Posso demorar um ano para terminar o caminho, mas não perco essas oportunidades...Fui dormir feliz!!!
De manhã nos despedimos e pé na estrada rumo à Campista. Pouco depois da 2ª porteira fui mais uma vez presenteado em Luminosa, a 1ª foi com céu estrelado da noite anterior. Avistei a 100 metros de distância um lobo guará cruzando a estrada. A princípio pensei ser um chow chow, mas as pernas compridas não me enganaram