sábado, 29 de setembro de 2012

Dona Cidinha parte II

Pôr do sol visto do Morro do Cristo


Antes de chegar no sítio da Dona Cidinha eu já havia lido o relato do Olinto pelo menos uma dezena de vezes e ficava imaginando se tudo aquilo iria acontecer comigo também. Será que ela estaria me esperando na porteira? Me receberia com um abraço de mãe? Eu criei uma expectativa muito grande em relação àquele momento. E tudo aconteceu conforme imaginei...Ela estava na porteira me esperando e já havia me visto quando toquei o 1º sino, me recebeu com um abraço bem apertado e me desejou as boas vindas. Impossível não se emocionar. O Seu Chiquinho, seu esposo, chegou um pouco depois. Ele vinha pilotando uma moto CG 125. Me cumprimentou dizendo: "Fique a vontade, a casa é sua". A Dona Cidinha já foi me pedindo as roupas sujas para lavar e me entregou uma toalha limpa para que eu pudesse tomar um banho.

Tomei um gatorade bem gelado e fui para o banho. Depois de um dia inteiro de caminhada com muito sol e poeira, pude perceber o valor que tem um banho relaxante. O CF nos faz dar muita importância a coisas simples do dia a dia que fazemos de forma automática e sem percebermos. Em seguida fui dar uma volta pela casa e fiquei admirado com um painel de fotos que tem logo na entrada da varanda. São centenas de peregrinos que passaram por ali e enviaram a foto para ser colocada no mural. Numa dessas fotos pude ver 4 peregrinos de Campinas que me ajudaram e me inspiraram a fazer o caminho. Me deram dicas valiosas na preparação da viagem e também contribuíram com um relato bem detalhado e emocionante. O link desse relato está na lateral do blog. Enquanto via as fotos a Dona Cidinha me chamou para o café. Fui até a cozinha e troquei o café por um chá de capim cidreira, o perfume da infusão se espalhou por todo o ambiente. Para acompanhar um bolo de amendoim e biscoitinhos de leite. 

Depois do café me sentei na varanda e fiquei admirando o lindo visual. Seu Chiquinho me falou que é possível avistar 11 cidades, dentre elas: Vargem Grande do Sul, Casa Branca, Porto Ferreira, São João da Boa Vista, Mogi Mirim, Mogi Guaçu entre outras. Fiquei ali um tempão e antes do anoitecer fui presenteado com o pôr do sol. Sensacional!!! Assim que escureceu fui jantar. Arroz, feijão, pernil de porco e batata cozida. Tudo fresquinho e preparado no fogão à lenha. Seu Chiquinho me ofereceu uma cachaça da região, só senti o cheiro e preferi não me arriscar. Eu já havia bebido duas latinhas de Skol. Pra sobremesa ataquei o doce de abóbora com côco, o meu preferido. Por volta das 20:00 h eles foram embora e eu fiquei sozinho na casa, pois não havia mais nenhum peregrino. Antes de sair, Seu Chiquinho me pediu para não deixar o Bob entrar, porque ele vai deitar direto na poltrona perto da varanda. Falei que sim, mas...como adoro cachorros adivinham onde o Bob dormiu? Risos...

De manhã bem cedo acordei e soltei o Bob lá pra fora. Ele dormiu na poltrona coberto com um paninho que arrumei lá no quarto. As 06:00 h em ponto, a Dona Cidinha chegou para preparar o café da manhã. Ela  perguntou que horas eu iria seguir viagem. Respondi que só iria no dia seguinte, ela ficou toda feliz...Aproveitei o dia para descansar e vi o tempo passar em câmera lenta. Andei por toda a propriedade sem pressa, sem compromisso e sem hora pra nada. Subi no Morro do Cristo e fiquei por lá um tempão, deitado nas pedras tomando o sol da manhã. Depois fui em direção da estrada onde tinha uma plantação de couve manteiga, e uma roça de cana pronta para a semeadura. Observei Seu Chiquinho correndo atrás do gado com sua moto 125, provavelmente um bezerro que se desgarrou do rebanho. Quando deu 12:00 h voltei para almoçar. Nesse momento Dona Cidinha me falou que chegariam 4 ciclistas vindos de Tambaú. Fiquei extremamente feliz, pois pela primeira vez na viagem teria compania. 

A minha felicidade só durou o tempo deles chegarem. Eram dois casais de amigos e eles vinham com uma programação toda definida. Tinham data e horário para começar e terminar a viagem. E no pouco tempo de conversa percebi de cara as nossas diferenças, de valores e pensamentos. Não foi um contato muito agradável. Infelizmente, não estávamos na mesma sintonia. Enquanto eu fui ver o lindo pôr do sol no Morro do Cristo eles se sentaram na frente da TV para assistir o Domingão do Faustão...Fazer o que??? Pra não ser injusto, apenas um dos rapazes me deu um pouco de atenção e me deixou um abraço quando foram embora no dia seguinte. Nem fiz questão de jantar junto com eles...Foi uma pena. Não seria daquela vez que teria compania durante o Caminho da Fé.

No dia seguinte quando acordei o pessoal já tinha ido embora. Tomei café da manhã e comecei a arrumar minhas coisas. Já era hora de partir. Dona Cidinha fez um lanchinho pra eu comer no caminho até São Roque. Me despedi dos dois e falei que podiam me esperar que voltaria num final de semana qualquer. Aqueles dois dias no sítio foram perfeitos. Descansei, refleti, admirei o inesquecível pôr do sol e tive o privilégio de conhecer pessoas maravilhosas e de coração puro. E a experiência do dia anterior serviu até para eu perceber que não estava sonhando, nem tudo podia ser do jeito que eu idealizava. Segui meu caminho rumo à pousada da Dona Cida em São Roque da Fartura.


Fotos

Área pronta para semeadura

Plantação de couve manteiga

Bananeira

Cabeça de gado presa na árvore 

Outra cabeça de gado no tronco

2º Sino, na entrada da casa dos peregrinos

Amigos do Seu Chiquinho com seus cavalos

Vista do Morro do Cristo ao entardecer

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Dona Cidinha - Parte I

Seu Chiquinho, esposo da Dona Cidinha

Antes de começar o relato olhem só o que disse Antonio Olinto sobre Dona Cidinha no seu Guia Caminho da Fé para ciclistas e caminhantes:

"Dona Cidinha é uma história a parte. Ela mora no alto do morro desde que casou e por gostar do trabalho no campo, nunca pensou em ter uma pousada. No entanto, como o fluxo de peregrinos no Caminho da Fé aumentou, sua ajuda era mais e mais solicitada, tendo em vista a localização privilegiada de sua propriedade. Além de estar no meio do caminho entre Vargem e São Roque, possui uma belíssima vista da região. Claro que se ela gosta do trabalho no campo, parece que gosta ainda mais de cuidar dos peregrinos, ou, como ela diz: "Meus peregrinos". Meu amigo Walter Magalhães, um experiente cicloturista, me deu a dica: "Olinto, você tem que conhecer a Dona Cidinha". Eu fiquei meio ressabiado, não acreditava que um proprietário de pousada pudesse ser assim tão especial, ainda mais depois de já terem passado tantos peregrinos pelo Caminho. De toda forma, como era uma dica de um amigo e cicloturista, resolvi passar por lá. 

Quando cheguei, vi primeiro o seu marido e o seu filho, simpáticos e educados. A pousada nada mais é que um sítio de campo, realmente típico da região. Conforme entramos em direção à cozinha, vi Dona Cidinha. Assim que ela ouviu: - "Chegou mais um peregrino" - Imediatamente deixou o que fazia e veio em minha direção. Sua primeira atitude foi me abraçar. Mas abraçar de verdade, como se faz com um amigo fiel. Fez-me sentir realmente abraçado. Naquele momento já percebi que se tratava de uma pessoa especial. Ela não tinha medo ou defesas. Senti toda a pureza de sua alma em seu jeito simples me oferecendo um santinho e me chamando de filho. Ela nunca me viu antes e me tratava assim, só por que eu era um peregrino. Perguntei a mim mesmo: Quantos tem essa coragem nos dias de hoje? Abrir os braços e o coração para um estranho...Mostrar o ser humano simples que realmente somos...Oferecer carinhosamente para partilhar a mesa...Tudo isto sem pedir nada em troca. Ô, meu Deus, estas pessoas são realmente ricas...

Ficamos em um cômodo grande com fogão à lenha, cozinhando doces e outros quitutes. Estava sentado em frente a uma mesa farta de produtos feitos em casa: leite, café, doces, bolos, rosquinhas, queijo "feito onti"...Uma perdição!! E eu tinha acabado de almoçar. Que pena, nem consegui experimentar de tudo. Havia um outro peregrino que fez o caminho em 2004 e agora trazia a família para conhecer a Dona Cidinha. Saí de lá com os olhos cheios d'água, estava comovido com aquela lição de simplicidade, humildade e carinho com todos os peregrinos. Espero que ela continue assim e que cada peregrino possa encontrar muita gente como ela pelo caminho"

Nota: Para não deixar esse post muito extenso e cansativo vou descrever meu relato na parte II.


Fotos

Painel de fotos localizado na varanda

Esse é o Bob

Pôr do Sol visto a partir da varanda lateral da casa

Casa dos peregrinos ao fundo e casa do Juninho mais a frente

Vista da estrada a partir do Morro do Cristo

Morro do Cristo

Tem um boi me observando

Estrada sentido São Roque da Fartura

O gado pousando pra foto. Casa da D.Cidinha ao fundo

Pivô de irrigação



quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Vargem Grande - Dona Cidinha

Sino na  entrada da pousada da Dona Cidinha

Depois do meio dia o sol já castigava bastante, se não fosse o vento forte a sensação térmica seria bem mais  alta. Os 13 Km que separam a cidade da pousada foram vencidos com muito suor e um exaustivo esforço físico, e por que não, psicológico também. Embora tenha tirado muitas fotos pelo caminho eu só pensava em chegar logo ao meu destino. Quando cheguei no Km 11 uma surpresa nada agradável. Me deparei com um morro bastante íngreme. Desanimei...Encostei a bicicleta na sombra de uma árvore e resolvi descansar. Aquela altura eu já estava morrendo em pé, não havia almoçado e as barrinhas de cereais não foram suficientes para repor a minha energia.

Durante toda a viagem meu subconsciente desenvolvia estratégias para vencer as adversidades. Eu já não conseguia raciocinar direito, olhei no relógio e vi que eram 15:30h. Pelo menos eu não corria o risco de anoitecer na estrada. Daquele ponto faltavam intermináveis 2 Km. Com três goles sequei a caramanhola,  a água estava quente e tive receio de ter uma bela dor de barriga. Vinte minutos já haviam se passado e eu não havia me mexido do lugar, estava fraco e sem ânimo para continuar. O corpo teimava em não obedecer o meu desejo de seguir em frente. Bem devagar fui levantando, peguei a magrela do chão e comecei a caminhar. Eu apoiava todo o peso do corpo no guidão da bike e com a mão direita apertava o freio pra ela não descer morro abaixo. Nessas horas o ciclista leva uma enorme desvantagem em relação ao caminhante. Neste momento me lembrei dos alpinistas quando chegavam próximo ao cume, faltando 200m para a consagração. Em certas montanhas esse pequeno trecho representa o maior desafio de todos. Nem os meses de escalada para chegar até ali eram tão perigosos quanto o "ataque final" ao topo. Me senti um verdadeiro alpinista do Caminho da Fé. 

Eu precisava empreender o "ataque final" em direção ao oásis da Dona Cidinha. Naquelas circunstâncias o sítio deixou de ser apenas um sítio e se transformou num verdadeiro paraíso na minha mente. Resolvi  andar sem olhar pra frente, abaixei a cabeça e olhava apenas para o chão contando os passos. A cada 50 passos eu parava e tomava fôlego, depois ia aumentando de dez em dez. Chegou um momento que já estava andando 200 passos por vez, já era um avanço e tanto. O corpo suado, a perna trêmula e os braços pesados feito uma âncora, mas a mente firme num só pensamento: Chegar. Faltando 500m encontrei com o Juninho (filho da D.Cidinha e Seu Francisco), ele me cumprimentou e avisou que só faltavam uns poucos metros pra chegar. Atento ao meu ciclocomputador sabia que faltava na verdade meio quilômetro. Ô lugar que não chega nunca!!! Na estrada eu havia cruzado com várias placas indicativas e nada do sítio aparecer...Era uma tortura.

Finalmente atravessei um mata-burro e vi a porteira, logo a frente tinha um sino (foto acima) e uma placa com os seguintes dizeres: "Peregrino(a), Por favor toque o sino para ser atendido". Parei a bicicleta, tirei a foto que ilustra esse post e toquei o sino com toda força. Descarreguei toda a tensão e o cansaço daquele trecho, que pra mim fora duríssimo. Do ponto onde eu estava avistei uma casa do lado esquerdo a uns 150m, imaginei ser ali. Parei na frente e bati palmas. Ninguém saiu...Ainda um pouco mais  a frente tinha outra casa, precisava vencer mais um morrinho. Logo um cãozinho preto e simpático veio me receber, era o Bob. Dona Cidinha já estava lá na porteira e gritou: - Ô fio, é aqui!!!. Larguei a bicicleta no chão e fui ao encontro da mais famosa personalidade do Caminho da Fé. A mãe de todos os peregrinos. Fui recebido com um abraço forte, como de uma mãe que espera pelo filho. Naquele momento me senti protegido, amado...e extremamente feliz nos braços de Dona Cidinha. Jamais esquecerei aquele momento...


Fotos

Placa indicativa São Sebastião da Grama/S.J. da Boa Vista

Seta amarela no asfalto indicando o caminho a seguir

Seta amarela na pedra. Todo o CF é muito bem sinalizado

Placa indicando que faltam 10 Km para a pousada 

Estrada de terra 

Pausa na sombra para descanso. Foram muitas...até a chegada

Entrada de uma fazenda na região. Muito bonita.

Bifurcação da estrada de terra logo a frente

Placa do CF. E, comendo poeira na estrada...

Faltam 358 Km para Aparecida do Norte

Cidade de Vargem Grande ao fundo

Pausa para uma foto na plantação de cana

Árvore solitária, bela protagonista para uma foto

A mesma árvore acima, agora sob a perspectiva da sombra

O gado observando a minha presença

Gado pastando e montanhas ao fundo

Bairro Peroba

Em toda bifurcação tem uma placa indicativa

Avistando casas ao fundo

Paróquia de Santana I

Paróquia de Santana II

Vencer o morro foi como o ataque final dos alpinistas

Placa indicando a proximidade do sítio

Porteira na beira da estrada

Foto de destaque do post

Morro do Cristo, no alto da foto

Comedouro do gado

Finalmente a casa dos peregrinos, Bob vindo me receber...

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Casa Branca - Vargem Grande do Sul

Igreja em Vargem Grande do Sul


O trajeto Casa Branca-Vargem Grande do Sul foi bem tranquilo. Mais uma vez optei por desviar do Caminho da Fé e segui direto pela rodovia. A minha intenção era poupar energia e dar um refresco ao joelho. Chegando na cidade eu ainda teria que enfrentar mais 13 Km em direção ao sítio da Dona Cidinha. Pela estrada o percurso é um pouco menor e todo plano. Quem optar por seguir o caminho oficial deve entrar à esquerda no Km 14,60 em frente o pedágio desativado. Cheguei na cidade por volta do meio dia, se não me engano era num sábado. Tinha muita gente na rua, principalmente veículos e motos. Eu não gostei muito do lugar, achei muito tumultuado. Parei num posto de gasolina e comprei um gatorade de limão. Aproveitei para perguntar onde ficava o Hotel Príncipe, fui informado que já estava bem próximo dali. Andei mais três quarteirões e cheguei no hotel, fica anexo a um posto de gasolina. O lugar é muito bem ajeitado, diferentemente do que eu havia pensado. Carimbei a credencial e liguei para D.Cidinha avisando que já estava na cidade. Em seguida montei na bike e me mandei...Eu estava ansioso para conhecer aquela pessoa maravilhosa, de quem todo mundo falava.


Fotos

Saindo de Casa Branca e pegando a rodovia

Placa indicativa

Trevo ainda em Casa Branca

Rodovia em direção á Vargem Grande do Sul

Cooperativa de batata I

Cooperativa de batata II

Placa indicativa do CF, Km 14 em frente ao pedágio

Uma parada para descanso no acostamento

Limite de municípios Casa Branca-Vargem Grande do Sul

Ao fundo já é possível avistar a cidade

Hotel Príncipe onde carimbei a credencial

Fachada frontal da igreja matriz

Praça da igreja matriz

Parada para pegar din din no Banco do Brasil

 
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