domingo, 23 de setembro de 2012

Casa Branca

Vista da janela do quarto onde dormi no Santuário do Desterro

"Entre os antigos, Entusiasmo significa transe, arrebatamento, ligação com Deus. O Entusiasmo é Ágape dirigido a alguma ideia, alguma coisa. Todos nós já passamos por isto. Quando amamos e acreditamos do fundo de nossa alma em algo, nos sentimos mais fortes que o mundo, e somos tomados de uma serenidade que vem da certeza de que nada poderá vencer nossa fé. Esta força estranha faz com que sempre tomemos as decisões certas, na hora exata, e quando atingimos o nosso objetivo ficamos surpresos com nossa própria capacidade. Porque, durante o Bom Combate, nada mais tem importância, estávamos sendo levados através do Entusiasmo até nossa meta."

O trecho acima é uma passagem do livro O Diário de Um Mago do Paulo Coelho, capítulo O Entusiamo, página 117. Para quem não sabe o livro narra a peregrinação do autor pelo Caminho de Santiago de Compostela. Eu já havia lido outras duas vezes e acabei conhecendo o Caminho da Fé através de uma referência no fórum do Caminho de Santiago. Eu resolvi transcrever esse trecho porque acredito fielmente que descreve tudo o que aconteceu comigo no trajeto Tambaú-Casa Branca, descrito no post anterior. Chegando na cidade parei em uma quitanda para tomar uma água e aliviar as pernas do esforço da viagem. Conversei com um senhor que estava no local, ele transportava batatas pela região e me alertou dos perigos da Serra da Fartura. Ele disse: "Quando chegar na Serra tome cuidado com os caminhões, eles te jogam fora da estrada". Eu fiquei meio sem entender, mesmo porque estava muito longe do local. Paguei a água com algumas moedas e me despedi do batateiro, agradecendo pelo aviso.

Cheguei no complexo do Desterro e logo fiquei impressionado com a imensidão e a beleza do lugar. A igreja fica posicionada bem na frente e dos lados tem salões grandes que servem como cozinha, restaurante e auditórios para festas e convenções. Ainda há uma construção de dois andares que abrigam os padres, freiras e seminaristas. Foi nesse local, no 2º andar que fiquei hospedado. Era um local enorme. Subindo uma escada chegamos num corredor que dava para duas alas, uma a direita e outra a esquerda. Na ala da direita onde fiquei, pude contar 10 quartos. Todos com pelo menos 3 beliches cada um. Fiquei no penúltimo, do lado esquerdo do corredor e com vista direta para o jardim e para a igreja (foto acima). Antes de arrumar a cama, eu perguntei para a Dona Maria: "Eu vou ficar aqui sozinho?". Ela balançou a cabeça de forma afirmativa indicando que sim. Nessa hora me subiu um friozinho na espinha. Respondi que tudo bem  tentando disfarçar o meu desconforto.

Aproveitei o período da tarde para visitar o centro da cidade. Fui em direção a praça da igreja matriz. Logo na saída do santuário tem uma ladeira bem extensa, soltei a bike e fui curtindo aquele ventinho gostoso no rosto. Com sorte, encontrei a igreja aberta e pude entrar para fazer uma oração e tirar algumas fotos. Em seguida fui almoçar num restaurante por perto e logo procurei uma mesa próxima da calçada. Tinha que ficar de olho na minha companheira de viagem. Poucos minutos depois chegaram dois bikers e sentaram próximo a mim. Um deles só tinha o cotoco do braço esquerdo, a parte do cotovelo pra cima. Mas tinha uma enorme habilidade em pilotar a bicicleta, algo que notei logo na sua chegada. Puxei conversa e soube que eram da região, um deles (o outro) já tinha feito o CF no ano passado e ambos conheciam a Dona Cidinha. Nos fins de semana faziam o trajeto Casa Branca-Vargem Grande-Dona Cidinha e voltavam no domingo à tarde. Informaram que o caminho até Vargem era tranquilo e bem agradável. Me desejaram Boa Sorte e saíram em seguida.

Dei uma passada na lan house que ficava próxima dali e descarreguei algumas fotos no blog. Já começava a escurecer e eu precisava voltar para o Santuário. A Dona Maria me esperava as 19:00h para o jantar. No caminho de volta chegando bem perto do complexo do Desterro eu avistei um bar e ao olhar no relógio ainda vi que eram 18:30h. Pensei: "Dá tempo de tomar uma cervejinha". A noite estava agradável, um clima ameno com uma brisa suave. O bar ainda estava vazio, devia ter umas quatro ou cinco mesas ocupadas. A maioria era de funcionários de uma empresa, curtindo um happy hour depois do expediente. Pedi uma cerveja e fiquei observando todos a minha volta. Quando estou sozinho num bar ou restaurante sempre faço isso, fico tentando descobrir o que estão falando, de onde vieram e outras tantas porções de coisa malucas. Mas a minha parada ali, tinha outra explicação. Fui guiado pelo subconsciente. Eu teria que passar a noite, sozinho, no Complexo do Desterro. Quando terminei a cerveja já eram 19:00h, eu já devia estar jantando aquela hora, mas ainda estava ali....no bar...viajando com meus pensamentos.

Resolvi me atrasar mais ainda e pedi outra cerveja. Imaginei: "Com duas na cabeça será mais fácil dormir...". Quando terminei a segunda garrafa, paguei a conta e fui embora. Cheguei 1 hora atrasado e o jantar já havia esfriado. Me desculpei com a Dona Maria e não deixei que ela esquentasse novamente a comida. Ao terminar a janta agradeci pela refeição e me dirigi ao quarto. Antes de ir deitar seu esposo me deu as chaves e me disse a seguinte frase: "Como você está sozinho, tranque a porta, é mais seguro..." Se eu já estava cabreiro antes disso, depois dessa frase a minha cabeça ficou dando um nó. O que será que ele quis dizer com aquilo? Seria perigoso dormir ali sozinho? Já teria acontecido alguma coisa com algum peregrino anteriormente? Eu tentava responder essas perguntas mas ficava ainda mais confuso...O que eu podia  esperar daquela noite?


Fotos


Monumento na entrada lateral do Santuário do Desterro

Corredor lateral direito. Dá acesso à cozinha e retiro dos padres

Corredor da ala onde dormi

A minha companheira sempre comigo

Igreja matriz de Casa Branca

Estátua na praça da igreja

Entrada principal. A porta é toda entalhada 

Vista do corredor central interno

Altar

Vista lateral e parte do teto

Imagens

Casarão histórico na praça central

Perspectiva lateral do casarão

Vista da lateral oposta de onde dormi no Santuário

Vista lateral da igreja do Desterro

Corredor central. Vista a partir do altar para fora

Vista da entrada para o altar



Um comentário:

  1. Seu Crispim,
    Estou gostando do seu relato, em agosto deste ano 2013 eu e um cunhado faremos o Caminho da Fé (com a graça de Deus.) Suas dicas estão sendo muito importantes e espero que logo após a conclusão de nossa viagem, eu possa postar em meu blog um relato que também ajude outras pessoas a percorrerem esse caminho.

    Um abraço e até a próxima.

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