sábado, 22 de setembro de 2012

Tambaú - Casa Branca

Santuário do Desterro

Antes de partir do Hotel Tarzan perguntei ao proprietário se o caminho pelo asfalto até Casa Branca era mais curto que o caminho da fé. Ele respondeu que sim e inclusive já tinha feito o trajeto de bike. No guia do Antonio Olinto o percurso pelo CF apontava 32,24 Km. Eu fiquei na dúvida sobre qual caminho seguir. Guardei o guia na mochila e resolvi ir perguntando até chegar no começo da estrada. Andei poucos quilômetros dentro da cidade e logo já vi a entrada para Casa Branca. Era um caminho de terra, na verdade, uma estrada com tráfego bastante intenso. Consegui visualizar algumas placas do CF que não correspondiam ao que estava indicado no guia. Fiquei pensando que aquela estrada também podia ser um caminho alternativo.

Logo no início me deparei com bastante entulho e sujeira na beira da estrada, pelo lugar ser ermo o pessoal aproveita para descartar esse material por ali. Também encontrei com um cachorro morto, pelo tamanho e forma devia ser um rottweiler, já estava em avançado estado de decomposição. Pela primeira vez durante a viagem, me deparei com a morte, cruel e inexorável. Vencida a curiosidade mórbida devidamente registrada com uma foto, avancei na estrada em direção à Casa Branca. Nesse ponto comi poeira... literalmente falando. Os treminhões de cana passavam por mim e levantavam aquela nuvem vermelha de pó, situação agravada pelos vários dias sem chuva. Resolvi fazer a primeira filmagem da viagem, eu não tinha muita intimidade com este recurso da máquina fotográfica, mas acabou ficando bem legal. E a partir desse dia foram dezenas de filmes que acabei fazendo. Outro equipamento que estava guardado sem uso era o MP4 que ganhei do meu irmão. Tirei da mochila e coloquei no ouvido para distrair um pouco...

Em São Paulo eu havia gravado músicas diversas num total de 47. Tinha de tudo: Raul Seixas, Beatles, Dido, Linking Park, IRA, Cold Play, U2, Evanescence, Black Eyed Peas, The Cranberries, Legião Urbana, Soft Cell, Joe Strummer, Jack Johson e por aí vai...Quando começou tocar Quiet Times da Dido, eu senti algo muito forte. Uma sensação de paz tomou conta do meu corpo e da minha alma. Olhava a paisagem em minha volta e achava tudo muito lindo. De repente, me veio no pensamento a minha amada esposa, meus cachorros um por um, a imagem deles sorrindo invadiu a minha mente. Comecei a pensar nos dias anteriores da caminhada, nos propósitos que me faziam estar ali e dos objetivos que eu tinha que alcançar. O tom melancólico da música fez com que eu começasse a chorar. Chorei igual menino, uma sensação de alegria, saudades, não sei explicar direito...

A partir daquele instante, foi o dia mais feliz da viagem e um dos dias mais felizes da minha vida!!!

A estrada de terra acabou e começou o asfalto. Eu parei a bike e aumentei o volume do MP4 no máximo e vim descendo a ladeira. Dez, vinte, trinta, quarenta, 50Km/h ao som de Beatles e eu me sentindo indestrutível. Que sensação maravilhosa!!! Nada e ninguém eram capazes de tirar aquilo de mim naquele momento. Nem a quebra da bolsa, um tsunami no Atlântico Sul, um meteoro desgovernado em direção à Terra, a morte de um ente querido eram suficientes para acabar com a minha felicidade. Um sentimento muito poderoso que só lembro ter sentido quando saltei a primeira vez de pára-quedas. Eu estava em êxtase...A medida que fui seguindo, aquela sensação foi diminuindo mas o sentimento de paz permaneceu por muitos dias. 

Se eu tivesse seguido pelo caminho oficial talvez não teria experimentado todas aquelas sensações. É difícil dizer agora, que já passou, mas o lugar, o clima, a música, a estrada, a velocidade da bike, tudo enfim... conspirou para aquele resultado. Me senti o homem mais feliz e poderoso do mundo, foi isso o que aconteceu...O caminho da fé nos faz tomar decisões a todo tempo, até mesmo a decisão de desviar e fazer outro trajeto. Fiz isso várias vezes e por razões diferentes. Nem sempre conseguia explicar o porquê, simplesmente fazia.  Acredito que a grande vantagem de viajar sozinho é ter a possibilidade de decidir usando a intuição. E isso faz toda a diferença... Voltando pra estrada, o caminho até Casa Branca seguiu livre, leve e solto...Pelo meu ciclocomputador rodei 7 Km a menos, comparados ao Guia do caminho da fé.


Recados 5833/34

Tambaú-Casa Branca

O trecho mais emocionante do caminho até aqui...

Saí cedo de Tambaú e infelizmente não pude assistir a missa as 09:00h. Segui até a saída da cidade conforme o Guia e as setas amarelas. Foi nesse percurso que se desenhou o que aconteceria pela frente. Comi muita poeira com o trânsito intenso dos treminhões de cana de açucar. Pela primeira vez durante a viagem resolvi pegar o MP3 e ouvir um pouco de música para me distrair. Foi nesse momento que as lágrimas começaram a cair pelo canto dos olhos. Lembrei da minha amada esposa, dos meus filhos Serginho, José Tobias, Valentina e do meu afilhado Raul e a saudades de casa bateu forte. Pensei no propósito que me fazia estar ali. Fé, coragem, superação, e um desejo enorme de amar o mundo!!!

Foi o dia mais feliz do Caminho...

Continua...

E um dos dia mais felizes da minha vida!!!

Sozinho na estrada ouvindo um som manero dos Beatles e a bike descendo feito um foguete nas ladeiras (com toda atenção e prudência). Hoje apertei os freios quando o velocímetro cravou 50 Km/h no asfalto.

Desviei do Caminho (setas amarelas) e resolvi ir pela pista. Rodei 6Km a menos e ainda evitei problemas sérios no câmbio da bike que está para estourar. Quando chegar em Aguas da Prata farei a manutenção. Hoje, finalmente consegui transferir as imagens da máquina para o pen drive. Em breve publicarei as fotos no blog. Já são mais de 400...

Dona Cidinha prepara o feijão que eu estou chegando!!!

Os bikers aqui de Casa Branca falaram muito bem da senhora e mandaram lembranças...

Um abraço bem forte e até amanhã!!!


Fotos


Saída de Tambaú

Cachorro morto na estrada de terra. Muito lixo e sujeira.

Tráfego intenso de treminhões de cana

Ponte sobre a linha do trem

Ponte sobre a linha do trem II

Rodovia Tambaú - Casa Branca

Sansão do campo na beira da estrada, um ótimo corta vento

Ciclocomputador indicando 50Km/h

Descanso na sombra da porteira da Fazenda Santa Rita

Coruja no topo da cerca

Porteira de uma fazenda

Árvore muito bonita na beira da estrada 

Entrada de uma fazenda na beira da rodovia

Porteira

Máquina de irrigação 

Lindo ipê amarelo

Irrigação na plantação de milho

Estrada para quem vem do caminho oficial. Cruza com o asfalto

Cidade de Casa Branca ao fundo

Ciclocomputador indicando 22,15 Km percorridos

Placa indicativa 

Rua próxima ao Santuário do Desterro

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