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Sino na entrada da pousada da Dona Cidinha |
Depois do meio dia o sol já castigava bastante, se não fosse o vento forte a sensação térmica seria bem mais alta. Os 13 Km que separam a cidade da pousada foram vencidos com muito suor e um exaustivo esforço físico, e por que não, psicológico também. Embora tenha tirado muitas fotos pelo caminho eu só pensava em chegar logo ao meu destino. Quando cheguei no Km 11 uma surpresa nada agradável. Me deparei com um morro bastante íngreme. Desanimei...Encostei a bicicleta na sombra de uma árvore e resolvi descansar. Aquela altura eu já estava morrendo em pé, não havia almoçado e as barrinhas de cereais não foram suficientes para repor a minha energia.
Durante toda a viagem meu subconsciente desenvolvia estratégias para vencer as adversidades. Eu já não conseguia raciocinar direito, olhei no relógio e vi que eram 15:30h. Pelo menos eu não corria o risco de anoitecer na estrada. Daquele ponto faltavam intermináveis 2 Km. Com três goles sequei a caramanhola, a água estava quente e tive receio de ter uma bela dor de barriga. Vinte minutos já haviam se passado e eu não havia me mexido do lugar, estava fraco e sem ânimo para continuar. O corpo teimava em não obedecer o meu desejo de seguir em frente. Bem devagar fui levantando, peguei a magrela do chão e comecei a caminhar. Eu apoiava todo o peso do corpo no guidão da bike e com a mão direita apertava o freio pra ela não descer morro abaixo. Nessas horas o ciclista leva uma enorme desvantagem em relação ao caminhante. Neste momento me lembrei dos alpinistas quando chegavam próximo ao cume, faltando 200m para a consagração. Em certas montanhas esse pequeno trecho representa o maior desafio de todos. Nem os meses de escalada para chegar até ali eram tão perigosos quanto o "ataque final" ao topo. Me senti um verdadeiro alpinista do Caminho da Fé.
Eu precisava empreender o "ataque final" em direção ao oásis da Dona Cidinha. Naquelas circunstâncias o sítio deixou de ser apenas um sítio e se transformou num verdadeiro paraíso na minha mente. Resolvi andar sem olhar pra frente, abaixei a cabeça e olhava apenas para o chão contando os passos. A cada 50 passos eu parava e tomava fôlego, depois ia aumentando de dez em dez. Chegou um momento que já estava andando 200 passos por vez, já era um avanço e tanto. O corpo suado, a perna trêmula e os braços pesados feito uma âncora, mas a mente firme num só pensamento: Chegar. Faltando 500m encontrei com o Juninho (filho da D.Cidinha e Seu Francisco), ele me cumprimentou e avisou que só faltavam uns poucos metros pra chegar. Atento ao meu ciclocomputador sabia que faltava na verdade meio quilômetro. Ô lugar que não chega nunca!!! Na estrada eu havia cruzado com várias placas indicativas e nada do sítio aparecer...Era uma tortura.
Finalmente atravessei um mata-burro e vi a porteira, logo a frente tinha um sino (foto acima) e uma placa com os seguintes dizeres:
"Peregrino(a), Por favor toque o sino para ser atendido". Parei a bicicleta, tirei a foto que ilustra esse post e toquei o sino com toda força. Descarreguei toda a tensão e o cansaço daquele trecho, que pra mim fora duríssimo. Do ponto onde eu estava avistei uma casa do lado esquerdo a uns 150m, imaginei ser ali. Parei na frente e bati palmas. Ninguém saiu...Ainda um pouco mais a frente tinha outra casa, precisava vencer mais um morrinho. Logo um cãozinho preto e simpático veio me receber, era o Bob. Dona Cidinha já estava lá na porteira e gritou:
- Ô fio, é aqui!!!. Larguei a bicicleta no chão e fui ao encontro da mais famosa personalidade do Caminho da Fé. A mãe de todos os peregrinos. Fui recebido com um abraço forte, como de uma mãe que espera pelo filho. Naquele momento me senti protegido, amado...e extremamente feliz nos braços de Dona Cidinha. Jamais esquecerei aquele momento...
Fotos
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Placa indicativa São Sebastião da Grama/S.J. da Boa Vista |
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Seta amarela no asfalto indicando o caminho a seguir |
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Seta amarela na pedra. Todo o CF é muito bem sinalizado |
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Placa indicando que faltam 10 Km para a pousada |
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Estrada de terra |
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Pausa na sombra para descanso. Foram muitas...até a chegada |
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Entrada de uma fazenda na região. Muito bonita. |
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Bifurcação da estrada de terra logo a frente |
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Placa do CF. E, comendo poeira na estrada... |
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Faltam 358 Km para Aparecida do Norte |
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Cidade de Vargem Grande ao fundo |
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Pausa para uma foto na plantação de cana |
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Árvore solitária, bela protagonista para uma foto |
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A mesma árvore acima, agora sob a perspectiva da sombra |
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O gado observando a minha presença |
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Gado pastando e montanhas ao fundo |
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Bairro Peroba |
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Em toda bifurcação tem uma placa indicativa |
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Avistando casas ao fundo |
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Paróquia de Santana I |
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Paróquia de Santana II |
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Vencer o morro foi como o ataque final dos alpinistas |
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Placa indicando a proximidade do sítio |
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Porteira na beira da estrada |
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Foto de destaque do post |
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Morro do Cristo, no alto da foto |
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Comedouro do gado |
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Finalmente a casa dos peregrinos, Bob vindo me receber... |
meu camarada...
ResponderExcluirVendo suas fotos eu lembro de cada detalhe de quando percorri o CF.
Lembro daquela grande árvore,
da subida logo depois do asfalto depois de Vargem Grande
Lembro que fiquei bastante irritado também com a grande movimentação em Vargem Grande.
e a subidinha até a pousada da Dona Cidinha, um desafio
A segunda vez que fiz o caminho da fé ao meu despedir da dona Cidinha chorei de soluçar...
Ela é muito especial, inexplicável a energia que ela passa...
Não tem foto sua aí não??? he he
ABraços
Alex
Pois é Magrelo,
ResponderExcluirEu achei que seria moleza os 13Km da cidade até a Dona Cidinha mas caí do cavalo. Esse trecho foi muito duro, ainda mais pelo horário que cheguei...Ainda bem que de Casa Branca até a cidade eu vim pelo asfalto, senão, o cansaço teria sido bem maior.
Depois me manda o link do seu blog pra eu colocar na lateral.
Um abraço!