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Igreja da Babilônia |
Começa agora a peregrinação até Aparecida do Norte. Serão 530Km de São Carlos até a basílica. A noite anterior mal consegui dormir, tal era a ansiedade de começar logo essa incrível aventura solitária. As 5:00h da manhã eu já estava de pé junto com a minha esposa Branca Fonseca arrumando e fechando o alforge. Tudo ok. Hora de ir para a rodoviária do Tietê pegar o ônibus que me levaria até o início do caminho. Nos despedimos na plataforma de embarque com a certeza de que a missão seria cumprida. Ela ficaria encarregada de cuidar da casa, dos cachorros e de me dar todo o suporte para as reservas nas pousadas e hotéis. Eu tinha a missão de chegar até Aparecida e de lá voltar uma pessoa muito melhor do que quando parti.
Embarquei com a bicicleta toda montada, inclusive com o alforge preso no bagageiro. O peso total da bagagem estava estimado em 25Kg mais uns 8Kg da bicicleta. Esse seria o meu primeiro obstáculo da viagem, o excesso de peso. A viagem durou 3 horas e meia e foi bem tranquila, eu viajei sem ninguém ao meu lado e desta forma pude ir bem confortável. Desci na rodoviária e segui direto para o hotel, um trajeto bem fácil e rápido. Comprei a credencial e sem perder muito tempo já segui rumo a Descalvado. Essa pressa inicial iria me fazer voltar à São Carlos. Mais pra frente vocês irão descobrir o porquê...
A saída da cidade foi meio complicada. Eu não estava encontrando as setas e também estava bastante nervoso. Algo até natural para a 1ª cicloviagem da minha vida. Resolvi parar num posto de gasolina e perguntei ao frentista que pouco me ajudou. Um cliente que estava abastecendo o carro e tinha ouvido a nossa conversa veio me auxiliar. Foi a primeira de muitas pessoas que me ajudaram durante o Caminho da Fé. O nome dele não me recordo mas ele também era um peregrino e já havia feito o CF a pé. Me ajudou a sair da cidade e encontrar o caminho de terra que me levaria até Aparecidinha (Babilônia). Quando cheguei no caminho de terra e vi as setas amarelas já fiquei bem mais tranquilo. A partir dali seria mais uns 12Km até a primeira parada, na igreja. No caminho muita plantação de cana, pasto e eucaliptos. O sol do meio dia já castigava bastante.
Cheguei na Babilônia por volta das 14:00h. Parei para descansar e tirar algumas fotos. A igreja estava aberta mas não havia ninguém. Eu pensei até que haveria alguém para carimbar a credencial. Ao sair vi algumas pessoas chegando de carro mas não parei para conversar. Eu ainda estava ansioso e queria chegar logo em Descalvado. O sol ainda estava bem forte e eu já dava sinais de cansaço. O percurso a partir daí ficou bem difícil. Eu já não tinha muita força pra pedalar, nem no plano...devido ao areião que se formava na estrada impedindo bastante o deslocamento. Parei inúmeras vezes para descansar e tomar água, nesse ponto é bem complicado arrumar o líquido precioso. Eu batia palmas nos sítios e pedia pra encher a garrafinha, na maioria das vezes fui atendido.
E foi nos arredores de um desses sítios que senti medo pela primeira vez...Encontrei com dois pastores grandes no meio da estrada acompanhados por mais 3 ou 4 vira-latas. A minha primeira reação foi parar e descer da bike. Eles ficaram me olhando e logo perceberam o meu medo. Sentaram um do lado do outro no meio da estrada impedindo a minha passagem. Sem pensar duas vezes, peguei a bike e dei meia volta. Fui bater num sítio há 300m atrás. Perguntei aos moradores se os cachorros eram bravos e se eu poderia seguir...O morador gentilmente me deu água fresca para beber e mandou que eu gritasse: "Vai deitar Fazum!!!" quando me aproximasse. Agradeci e voltei para a estrada. Quando chegava próximo do local onde havia parado...surpresa!!! Os cachorros já haviam ido embora. Me senti aliviado!!!
Segui meu caminho...
Faltando poucos quilômetros para chegar na cidade fui tomado por pensamentos ruins. Tinha receio de não conseguir chegar antes do entardecer. Nesse momento fraquejei... e por pouco não resolvi pedir carona aos
veículos que passavam vez ou outra. Ao avistar a cidade do alto do morro agradeci a Deus e respirei bem fundo sentido uma sensação de alívio. Eu já não corria mais o risco de permanecer na estrada na escuridão. Isso já era quase 18:00h.
Cheguei na estação de trem desativada e liguei para minha esposa avisar a Dona Cida.
O primeiro dia e a primeira etapa da viagem havia sido cumprida.
Apesar do extremo cansaço eu estava satisfeito.
Fotos
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Ferramentas para a bike |
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Remédios e produtos de higiene pessoal |
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A bike pronta para a viagem no jardim de casa |
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Onibus para São Carlos |
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Entrada da universidade de São Carlos |
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Rodoviária de São Carlos |
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Hotel Accácio |
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Igreja matriz |
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Início do caminho de terra |
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Seta indicativa 532Km |
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Vista da estrada |
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Sombra bem agradável para descanso |
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Vista da Igreja da Babilônia |
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Divisa de municípios São Carlos-Descalvado |
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O momento em que avisto Descalvado ao fundo. Alívio!!! |
Maravilha esses relatos do CF, vai tranquilo que chega irmão!!
ResponderExcluirComo vai Paulo?
ExcluirTudo bem por aí...os relatos estão sendo feitos baseados em anotações que fiz durante o caminho da fé. Terminei de percorrê-lo no domingo retrasado, se não me engano, dia 2/SET. Como fiquei durante 21 dias na estrada, os relatos estão sendo feitos por partes...De qualquer forma, agradeço pela visita.
Um grande abraço,
Sorte, saúde e sucesso!!!
Bom dia Seu Crispim.
ResponderExcluiras empresas de ônibus transportam a bicicleta montada?
A regra é transportá-la desmontada (sem o pneu dianteiro). Aí depende do humor do fiscal ou motorista. Eu tive sorte e sempre transportei a magrela toda montada, inclusive com o alforge. Ganha-se tempo precioso....As empresas maiores como Cometa e Pássaro Marrom há habituadas ao transporte de ciclistas são mais tolerantes...as outras regionais são mais exigentes.
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