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Cruz de madeira em homenagem ao médico-peregrino morto por abelhas |
Para sair de Estiva fiz o mesmo caminho da procissão, só que no sentido inverso. Cheguei na ponte e atravessei a rodovia Fernão Dias. O dia ainda estava clareando. Do outro lado da cidade segui por um caminho de terra. Encontrei com crianças na beira da estrada esperando pelo transporte escolar. Ao passar por elas, acenei com a mão dizendo "Bom Dia". Elas me olharam admiradas e retribuíram o cumprimento. Desde que iniciei o CF em São Carlos tive a ilusão de que todas as pessoas que eu cruzava pelas estradas sabiam que eu era um peregrino e que viajava rumo à basílica de Aparecida. Com o tempo percebi que ao encontrar alguém pelo caminho era eu que cumprimentava primeiro. As pessoas apenas retribuiam. Mas o caminho é tão mágico que durante muito tempo tive a impressão de ser o contrário.
As 08:30 h eu já havia vencido a Serra do Caçador. Apoiei a bike no tronco de uma árvore, sentei no chão e com os olhos fechados senti toda a energia daquele lugar. Curti novamente a liberdade de estar sozinho. Antes de seguir em frente procurei por um graveto e quando o encontrei fiz uma inscrição no meio da estrada: "Crispim 08:30 h". Com certeza, o Tim e a Marílis iriam saber o horário que passei por ali. Dada a inclinação da ladeira seria impossível passar por ali pedalando. Um pouco mais a frente encontrei com um cão solitário. Não parecia estar perdido. Ele vinha andando na estrada em direção à Consolação. Diminuí o ritmo da pedalada e lhe fiz compania por uns 2 Km. Conversei com ele como se estivesse conversando com um amigo. Falei das minhas aventuras pelo Caminho da Fé e das minhas decepções com as pessoas. Lhe ofereci água mas ele não aceitou. Seguia num trote apressado parecendo que tinha hora pra chegar. Quando parei para descansar ele seguiu em frente e desapareceu numa curva da estrada.
Faltando poucos quilômetros para chegar em Consolação avistei uma porteira do lado esquerdo. Ao lado dela tinha uma cruz de madeira com uma inscrição. Trazia um nome na horizontal e uma data na vertical com uma outra inscrição que não pude entender. Eu já havia encontrado muitas pelo caminho mas aquela em especial me chamou a atenção. Desci da bicicleta e me aproximei. Foi nesse momento que me veio à mente a história do médico-peregrino atacado por abelhas. A primeira vez que ouvi o comentário foi em Descalvado e depois em Águas da Prata. Na sede, tive a oportunidade de consultar o livro dos peregrinos e vi a mensagem e o dia que ele havia passado por lá. Se não me engano, ele era otorrino e morava em São Sebastião do Paraíso/MG. Era alérgico à picadas de abelhas e infelizmente naquele ponto foi atacado por um enxame ou por algumas delas, não sei ao certo. Para quem tem esse problema, uma única picada poderá ser fatal. Fiz uma oração pedindo a Deus que colocasse sua alma em bom lugar. Depois da oração, fiz o sinal da cruz e segui em frente rumo à Consolação.
Ainda bem que o último trecho antes da cidade foi numa banguela. Soltei os freios e aproveitei com toda a alegria o descidão. Cheguei na cidade sem pedalar ainda embalado pela velocidade da magrela. Parei em frente à igreja e felizmente a porta estava aberta. Entrei para agradecer e pedir proteção no restante da viagem. A pousada da Dona Elza ficava bem ao lado. Peguei a credencial para carimbar e após encher a caramanhola de água partí rumo à Paraisópolis.
Inconscientemente eu estava pedalando num ritmo mais forte. Por alguns momentos eu ainda pensava que o Pedro estava lá na frente me esperando. Mas agora a situação era diferente, eu é que vinha na dianteira. Atrás de mim vinha o casal de Mococa, o Tim e a Marílis. Saindo de Consolação, andei por algum tempo no acostamento da rodovia, em nenhum momento cruzei com algum veículo. Melhor assim. Um pouco mais à frente o caminho entrava novamente numa estrada de terra. Segui uns 400 m beirando um riacho para mais a frente atravessar uma ponte, o caminho retornava em sentido inverso. Depois de um certo tempo percebi que fiz um "U" simplesmente para poder passar para o outro lado do rio. Toda a região era cercada por pequenas propriedades rurais e com grande predominância na criação de gado. A coisa mais difícil de acontecer era encontrar alguém andando pela estrada e quando isso acontecia eu me sentia feliz. Não sei explicar. Talvez, a ideia de uma completa solidão me deixasse um pouco intranquilo. Quase chegando em Paraisópolis fui finalmente alcançado pelo Tim, logo atrás vinha a sua esposa. Pedalamos juntos até a pousada da praça, onde pernoitamos.
Recados 5904/05
Estiva-Consolação
Acordei bem cedo e saí rumo à Consolação. A intenção era subir a Serra do Caçador antes que o sol estivesse "fritando" na cabeça. E deu certo, as 08:30h já havia vencido a subida e desfrutava de um visual incrível no alto do morro. Imprimi um ritmo forte ainda achando que o Pedro estava lá na frente me esperando...rsrsrs Na verdade era eu que vinha na frente pois tinha um casal de Mococa vindo depois de mim (Tim e Marílis).
Antes de Consolação avistei uma cruz ao lado de uma porteira. Possivelmente era do médico-peregrino que foi atacado por abelhas...Parei um instante e fiz uma oração!!! A chegada em Consolação foi tranquila e depois de algumas fotos carimbei a credencial e segui rumo à Paraisópolis.
Consolação-Paraisópolis
Sem perder muito tempo segui rumo à Paraisópolis. O trajeto é mais fácil do que o anterior mas o horário já prejudicava a pedalada. O sol já apontava quase 90º. Parei algumas vezes para descansar e tirar fotos. Faltando 8Km para a chegada fui alcançado por Tim e Marílis, o casal de Mococa que vinha logo atrás. A partir desse momento pedalamos juntos até a Pousada da Praça.
Chegando lá fomos muito bem recebidos pela Jandira. A arquitetura e decoração do local é em estilo rústico, de muito bom gosto. A localização também é ótima, fica no centro da cidade.
Eu passei boa parte da juventude nesta cidade, um amigo meu tinha parentes na área rural. Amanhã vou pegar a bike e ver se os encontro. Já faz 15 anos que estive aqui pela última vez...
Fotos
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Área rural de Estiva |
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Um pouco antes de subir a serra |
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Inscrição deixada no meio da estrada no alto da serra |
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Vista do alto da Serra do Caçador |
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Divisa de municípios |
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Capela no bairro Boa Vista |
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Seria um peregrino? |
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Esse simpático cãozinho me acompanhou durante 2 Km |
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Chegando em Consolação |
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Vista atrás da igreja |
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Fachada frontal |
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Imagem de Cristo crucificado |
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Corredor central e altar em reforma |
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Praça |
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Deixando a cidade de Consolação |
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Placa indicando o destino Paraisópolis |
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Depois da rodovia entrei a direita nesse ponto |
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A estrada margeando o rio |
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Ponte de madeira, o caminho segue virando à esquerda |
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Entrada de um dos muitos sítios das redondezas |
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O caminho passa contornando essa bela montanha |
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Momento em que fui alcançado pelo casal de Mococa |
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Nesse ponto já é possível avistar Paraisópolis |
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Marílis pousando para a foto em frente à igreja de Paraisópolis |
Ola!Tudo bem?Eu vou fazer esse role.Parabens pelas fotos e coragem.
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