quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Tocos do Mogi - Estiva

Trator puxando uma carroça com bujões de leite recolhidos na área rural


A noite foi mal dormida. Ainda bem que escolhi o único quarto que tinha televisão. Eu estava cansado, tinha vontade de dormir mas não conseguia. Deixei a TV ligada e esperei que o sono viesse. Antes de dormir eu tinha o costume de escrever na minha agenda. Relatava o que de mais importante acontecia no dia e alguns detalhes que lembrava do caminho. Aquela noite eu estava chateado e não tive vontade de escrever. É difícil para qualquer pessoa aceitar uma crítica, mais difícil ainda é quando achamos que a crítica é injusta. Eu fiquei pensando durante um longo período: Será que eu era lento mesmo? Qual seria a diferença entre lentidão e tranquilidade? Valia a pena fazer o CF sem desfrutar o máximo que o caminho oferecia? Isso me fez lembrar de quando trabalhava em uma repartição pública e os meus colegas abriam mão do horário do almoço só para sair uma hora antes no final do expediente. Eu achava aquilo um absurdo. Cada um vive da forma que acha melhor. Apesar de não concordar com a atitude dos meus colegas de trabalho nunca os critiquei por isso.

No dia seguinte eu ainda sentia um pouco de raiva. Pensei por um momento em ficar e só partir depois do almoço. Mas eu não podia ser injusto. Muitas coisas boas aconteceram nos três dias que pedalamos juntos. E além do mais, o meu companheiro tinha uma preocupação com meu preparo físico. Eu não podia ficar remoendo aquela situação pra sempre. O melhor a fazer era seguir em frente e esquecer a conversa do restaurante. As 06:00 h já estávamos na padaria tomando café. A pousada da Dona Terezinha não oferecia esse serviço, apenas a pernoite ao preço de R$ 20,00. Paramos na frente da igreja para uma foto. O Pedro estava quieto. Conversamos poucas vezes durante o trajeto. Desta vez era eu que seguia na frente, o braço machucado o impedia de controlar o guidão com mais firmeza. Principalmente nas descidas ele vinha bem devagar tomando bastante cuidado para não cair. Percebi que aquela situação o incomodava. Ele já não estava mais no controle, era eu que ditava o ritmo. 

De Tocos até Estiva percorremos 21 Km. Por todo o caminho avistava-se plantações de morango. As culturas estavam distribuídas por toda a região montanhosa, o que exigia um bom preparo físico dos agricultores. Numa dessas propriedades paramos para experimentar o fruto. Eu nunca havia comido um morango tão macio e tão doce. Para não abusar da generosidade do sitiante colhemos uma meia dúzia, agradecemos e fomos embora. As pessoas do campo sempre estavam dispostas a ajudar de alguma forma os peregrinos que por ali passavam. Quem fizer o trecho pela primeira vez esteja preparado para subir bem íngreme a parir do Km 12 até o Km 15. Eu tive bastante dificuldade para vencer a montanha. Mesmo com o braço machucado eu lembro que o Pedro veio em meu auxílio na parte final da subida. Um pouco antes de chegar na cidade ainda paramos num bairro chamado Fazenda Velha. Chegamos em Estiva por volta do meio dia. Paramos na Padaria Santa Gertrudes que fica embaixo da Pousada Poka. Como lá não servia almoço fomos até o restaurante da Mãe Geralda, que fica a poucos metros na mesma calçada. 

A minha decisão de ficar em Estiva já estava tomada. Durante o almoço falei isso ao Pedro. Ele também estava determinado a seguir em frente. Pedi uma cerveja e tomei com gosto, pois o calor era infernal. Ele me perguntou se não ficaria chateado dele partir. Respondi que não. Mesmo que eu quisesse, seria impossível continuar. Eu estava me sentindo mal e a viagem havia se tornado um martírio pra mim. Descansar em Estiva por dois dias seria como alcançar o oásis no meio do deserto. Quando terminamos o almoço fiz questão de pagar a conta, um pequeno gesto da minha gratidão pela sua compania. Acompanhei meu amigo até a porta e lhe dei um abraço. Ele, relutante, meio que se esquivou. Era um tipo durão que não fazia conta de encontros ou despedidas. Acho que refletia um pouco a vida dura no sertão de PE. De qualquer forma, não interpretei aquilo como um gesto de ressentimento e sim como um traço da sua personalidade. Acenei com a mão e lhe desejei boa viagem... 


Recado 5893

Tocos do Mogi-Estiva

Chegou o dia de nos separarmos...

Acordamos cedo e seguimos rumo a Estiva. Eu já sabia que hoje seria o último dia que seguiríamos juntos...Eu estava "segurando" o Pedro e de certa forma estava atrasando a sua chegada em Aparecida. Por outro lado, ele estava imprimindo um ritmo forte, ao qual, eu não estava mais aguentando. De forma amigável e sem nenhum constrangimento de ambos os lados resolvemos nos despedirmos em Estiva. Almoçamos juntos e ele seguiu para Consolação, enquanto eu estou aqui escrevendo essa msg.

O Pedro foi um grande companheiro durante esses 3 dias e meio de pedalada. Teve bastante paciência em me esperar e empurrou a minha bike inúmeras vezes morro acima, enquanto eu mal tinha forças para caminhar...

Valeu Pedrão! Aguarde a minha visita no DF.



Fotos



Chegando no bairro de Fazenda Velha

Divisa de municípios

Igreja em Fazenda Velha

Plantação de morangos

Lona plástica protegendo a cultura das intempéries

O morango mais macio e doce que comi na vida

Vista da região

Desta vez eu estava no controle, Pedro sempre vinha atrás

Capelinha antes da subida do morro Km 12 ao Km 15

Cada veículo que passava por nós levantava uma nuvem de poeira

Avistando Estiva 

Chegou a hora de nos separarmos. Pedro se preparando para ir embora...

3 comentários:

  1. Muito legal este seu relato. Fiz o Caminho da Fé em novembro de 2011. Após isto, parece que o Caminho faz parte de sua existência, entranha em você, fecho os olhos e me recordo dos grandes momentos que tive, sonho sempre com este Caminho. Quero voltar.
    O Caminho da Fé, por mais que esteja acompanhado, é para ser feito sozinho... quero dizer, viajando no introspecto apesar de estar acompanhado. Siga sempre o seu ritmo, o que irá deixa-lo confortável e avise aos seu amigos disto, pois o Caminho pode se tornar uma tortura quando ir pela cabeça de alguém.

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  2. Estou fazendo sozinha parti de aguas da prata hoje estou em Tocos,chove todos os dias mas vou devagar e com muita fé,sou mulher e tenho 54 anos,já percorri caminho do ouro e dos Diamantes e minha primeira viajem ds cicloturismo sozinha estou adorando faço o meu ritmo e devagar d sempre chego ao meu objetivo um abraço fique com Deus

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  3. Estou fazendo sozinha parti de aguas da prata hoje estou em Tocos,chove todos os dias mas vou devagar e com muita fé,sou mulher e tenho 54 anos,já percorri caminho do ouro e dos Diamantes e minha primeira viajem ds cicloturismo sozinha estou adorando faço o meu ritmo e devagar d sempre chego ao meu objetivo um abraço fique com Deus

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