sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Ouro Fino

Igreja Matriz São Francisco de Paula


Vou começar esse post com um texto retirado do livro de visitas do site oficial do Caminho da Fé, escrito por Kátia Esteves e postado por Marcelo Lopes de Nova Iguaçu/RJ.

"Peregrinar é a decisão maior que o ser humano se permite, pois ele deve caminhar em completa solidão, assim se encontrará consigo mesmo. Peregrinar é renunciar as vaidades e mordomias do cotidiano. É ir de peito aberto, ao encontro de pessoas de todas as nacionalidades, religiões e crenças. É a total falta de identidade que permite uma liberdade maior, sem máscaras. Não se sabe quem é pobre e quem é rico. Isso não importa. Os julgamentos comuns no dia-a-dia, são deixados de lado. Peregrinar é ter o direito de se derramar em lágrimas e lavar a alma em prantos. É pedir ajuda à mãe natureza. Peregrinar é respeitar o seu corpo, acariciar os seus pés todos os dias, deitar debaixo de uma árvore e se entregar. É tomar uma forte decisão: desistir, nunca. Peregrinar é deixar as marcas de seus passos determinados. É ouvir o toc-toc do cajado, apoio imprescindível e despertador nas horas cansadas e perigosas. Todo peregrino é um anjo e, em seu caminhar, os desejos, as promessas e as orações se transformam em fonte de luz, que se expande por todo o universo e se multiplica com o ser superior dando a explosão do sublime amor e perdão"

Inspirador, o texto define muito bem o que é ser um peregrino. Eu gosto de acompanhar as mensagens do livro, muitas pessoas sábias escrevem sobre as suas experiências de peregrinação e de vida. É verdade que de vez em quando aparecem os egocêntricos com suas postulações arrogantes. Isso também faz parte. É preciso exercitar a paciência e a tolerância. Agora voltando à minha passagem por Ouro Fino, confesso que fiquei um pouco decepcionado. Eu esperava mais da cidade. Pelo menos por onde andei no centro só vi ruas estreitas com trânsito intenso de veículos e pessoas, além de comércio por todos os lados. Depois de almoçar a primeira providência que tomei foi procurar uma agência dos Correios. Eu precisava urgentemente despachar os 11 kg desnecessários de bagagem. Foi de tudo um pouco: Itens de higiente, remédios, frutas desidratadas, roupas e ferramentas da bike. Paguei R$ 25,00 pelo PAC que chegou no dia seguinte. Feito isso, fui passear pela cidade. O Pedro havia ficado na pousada descansando. Uma cena que me chamou muita atenção ainda no caminho até Ouro Fino foi quando paramos num ponto da estrada e o Pedro retirou um saquinho do bolso contendo sementes de árvores nativas que pegamos lá na sede em Águas da Prata. Ele se debruçou sobre a cerca e as lançou em direção ao pasto. Virou pra mim e disse: "Quem sabe um dia o seu filho ou seu neto não possa descansar na sombra dessa árvore que estou plantando agora!?" Eu não disse nada, mas aquela frase me tocou profundamente.

Eu aprendi muito com o Pedro e tenho certeza que ele aprendeu comigo também. Os nossos gostos e pensamentos eram bem diferentes. Notei isso logo de cara. Eu sou um bom observador. É por isso que prefiro ouvir muito mais do que falar. Eu acho que nem é uma questão de preferência, mas sim uma característica da minha própria natureza. As pessoas que falam muito se expõem demais e acabam por mostrar os seus pontos fracos. Nesse aspecto o Pedro era bem parecido comigo. Era um observador nato. E isso eu também percebi logo de início. A pousada onde ficamos estava em reforma, mas somente o piso superior. Era um casarão bem antigo, as portas e janelas demonstravam a ação do tempo. Não vou dizer que era um lugar muito agradável, longe disso. A disposição dos cômodos não trazia uma boa impressão, era um verdadeiro labirinto de portas e corredores. Mas estava tudo limpo e organizado. Tinha uma sala com uma TV de plasma e nos fundos uma varanda com tanque e varal para lavar e secar as roupas. À noite fomos até uma pizzaria para jantar. Eu quis dividir uma garrafa de vinho tinto com o Pedro mas ele achou que era muito pra ele. No final acabamos bebendo uma taça daqueles vinhos de garrafão. Ainda bem que tinha o seco. Vinho suave além de ruim deixa a pessoa bêbada em dois minutos. Eu gosto dos clássicos cabernet e pinot noir. O nome da pizzaria eu não lembro mais, ficava numa rua movimentada com alguns bares e barracas de lanches. Eu achei que não valeu a pena. A massa era muito alta, o molho de tomate era enlatado e a azeitona era verde. Aqui em São Paulo só um desses pecados já decretaria a falência do estabelecimento. As vezes eu até esquecia que estava no Caminho da Fé. Risos...

Outra sensação que não posso deixar de citar foi em relação à própria viagem. Fazer o Caminho da Fé é como fazer várias viagens numa só. Talvez, eu não tenha sido muito feliz na definição mas é mais ou menos o que eu quis dizer. O ritual de acordar cedo todos os dias e arrumar a mala rumo ao desconhecido é uma das coisas que mais me fascinaram na viagem. A gente está chegando ou partindo de uma cidade praticamente todos os dias. Não me lembro até hoje de ter feito nada parecido. E a grande diferença que eu tinha em relação ao Pedro era essa. Enquanto eu queria curtir cada segundo de cada lugar onde a gente passava, ele queria chegar o mais rápido possível na próxima pousada. Essa pressa era uma necessidade dele, talvez, do Pedro atleta, corredor de maratona e de uma pessoa extremamente bem preparada fisicamente. Pelo o que havia me falado, como era aposentado, não tinha pressa para voltar pra Brasília. O ritmo acelerado de fazer as coisas estavam gravados no seu DNA. Para me adaptar ao jeito do meu novo amigo eu acaba acordando meia hora mais cedo para arrumar as minhas coisas com calma. Eu não gosto de fazer nada com pressa. Uma das coisas que me deixavam contrariado era ter que tomar café ou fazer as refeições de maneira muito rápida. Pelo menos nisso eu não mudei a minha maneira de ser. Tomava café e fazia as refeições de maneira tranquila e sem pressa. Essa tranquilidade irritou o Pedro algumas vezes. Ele não dizia nada mas eu percebia. Na manhã seguinte acordamos bem cedo, tomamos café e fomos em direção à Tocos do Mogi. As fotos que eu queria tanto tirar no interior da igreja ficarão para uma próxima oportunidade...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

 
;